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Jornadas de junho, 10 anos após protestos a política brasileira ainda traz as marcas e consequências
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Há 10 anos, milhões de pessoas foram às ruas para reivindicar o aumento da tarifa do transporte público, gastos na Copa, corrupção, melhorias na saúde e transportes.
- Por Camilla Ribeiro
- 03/06/2023 11h33 - Atualizado há 1 ano
Há 10 anos no Brasil, milhões de pessoas insatisfeitas com aumento das tarifas de ônibus e corrupção foram as ruas para realizar manifestações.
Uma série de manifestações tomou o Brasil, foram as chamadas “jornadas de junho”, essas manifestações viraram a política brasileira de cabeça para baixo.
Dilma Rousseff (PT), era a presidente da época e mantinha uma considerável aprovação popular. Porém, a partir daquele mês a política brasileira iniciaria um novo ciclo: operação Lava Jato, o impeachment de Dilma e a eleição de Jair Bolsonaro.
Em junho de 2013 uma série de acontecimentos e protestos tomaram conta de toda sociedade brasileira, para alguns acadêmicos e políticos o mês de junho ficou conhecido como “o mês que não terminou”.
De acordo com o cientista e pesquisador da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Sérgio Praça, os anos de 2013, 2016 (impeachment de Dilma) e 2018 (eleição de Bolsonaro) são os anos mais importantes para a política brasileira considerando as últimas três décadas.
“Houve uma conjunção rara de fatores que impactou a política brasileira de forma decisiva: o início da crise econômica, as manifestações populares e o início da ideia da Lava Jato”, diz, enfatiza.
Ricardo Fabrino Mendonça, professor do Departamento de Ciência Política da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), diz que existe laços entre os atos de 2013 e os acontecimentos políticos dos anos seguintes, “essas conexões não são de caráter simples e unilinear”.
“Não vejo junho de 2013 como a causa dos processos que sucederam aquilo ali, mas o período é atravessado por muitos dos fatores que se manifestam de outras formas nos anos subsequentes”, diz.
Deysi Ciocari, cientista política, diz que os atos políticos realizado naquele ano “não foram totalmente compreendidos”, para tanto, precisam de uma análise cautelosa.
“Concordo, sim: 2013 não terminou. Foi o estopim para uma nova política brasileira, mas uma fase que ainda precisa de cuidado e análise crítica”, afirma.
O povo vai às ruas
O estopim para que os atos do mês de junho desencadeasse aconteceu no dia 2, quando na cidade de São Paulo aconteceu um reajuste de R$0,20 nas tarifas do transporte público.
O preço da tarifa era de R$3, no dia 3 ocorreram as primeiras, ainda pequenas, manifestações.
Dias depois alguns outros movimentos foram realizados: na Avenida Paulista o Movimento Passe Livre (MPL); No mesmo dia manifestantes ainda ocuparam a Avenida Presidente Vargas no Rio de Janeiro.
Nos dias seguintes houveram mais protestos, estes com registros de depredação.
“No dia 13 de junho, no entanto, ocorre a virada para os atos. O quarto protesto em São Paulo foi duramente reprimido pela polícia militar. Entre os feridos, em meio a pancadarias e tiros de bala de borracha, estavam jornalistas” diz o cientista político, Ricardo Fabrino Mendonça.
“Houve uma solidariedade midiática, com uma série de jornalistas atingidos por bala de borracha, e uma sociedade civil que começa a apoiar aquela forma de se manifestar, vinculadas a toda uma tendência de questionamento do sistema político”, afirma Mendonça.
Segundo Mendonça, fatores foram importantes para que houvesse essas manifestações nessas datas, esses seriam por conta da “janela de visibilidade” da Copa das Confederações - que estava acontecendo no Brasil naquele momento.
Mendonça enfatiza ainda que o cenário externo tenha impulsionado também os protestos no Brasil. No Egito, Estados Unidos da América, na Espanha e na Turquia estavam ocorrendo protestos.
No primeiro jogo da Copa das Confederações, em 15 de junho, a então presidente do Brasil, Dilma Rousseff, foi hostilizada.As manifestações desse dia evidenciaram a indignação do povo contra os investimentos para para o esporte e exigia melhoras dos serviços públicos.
No dia 17 de junho, em Brasília manifestantes no alto da marquise do Congresso Nacional registram uma das cenas mais icônicas do período de manifestações.
Os protestos foram avançando por todo o país, no dia 20 de junho ocorreu uma das maiores manifestações em mais de 100 cidades brasileiras com mais de 1 milhão de pessoas nas ruas.
As pautas das manifestações se arrastam até hoje, dez anos depois, sem nenhuma resolução.
Consequências das jornadas
Depois de semanas de protestos algumas capitais, inclusive São Paulo,anunciou a redução das tarifas. Dilma Rousseff fez um “pacto” com governadores e prefeitos que pudesse atender às demandas com isso as tensões diminuíram.
A insatisfação popular com governo de Dilma teve muita ascensão.
Outras mudanças ocorreram no Senado, no dia 26 apresentaram um projeto endurecendo a punição contra corrupção e a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara optaram pelo fim do voto secreto para a cassação de mandatos.
“Foi um movimento que certamente alterou a forma política brasileira e deu origem a novos líderes políticos”, enfatiza Deysi Cioccari.
A cientista analisa que as ideias de rejeição à corrupção, desejo de melhoria nos serviços públicos já existiam no pensamento do povo brasileiro e ficaram evidentes com o efeito midiático das redes.